terça-feira, 31 de dezembro de 2013

mar afora

todos os corpos têm seus risos, alguns adormecem na sede do abraço, outros têm tremores oníricos-noturnos, e há aqueles que desajeitadamente desenham um quatro com as pernas e respiram ofegantes para cima

mas o seu

o seu tinha braços de tragédia

todas as noites antes de dormir você repousava a mão sobre a testa como um Édipo sofredor, os seus braços desenhavam todas as tragicidades das fábulas, e então você apagava tragicamente

tragicamente
você apaga

o nosso problema
é que você fala de Aristóteles
e eu falo de Magritte
o nosso problema
é que você é discado
e eu sou banda larga
eu tô abrindo várias abas e você tá dando lag
você tá dando lag
o nosso problema é que você é pra dentro e eu sou pra fora
fora da gaiola

vem cá pra fora
tem noites de amor
tem choro de despedida
tem chocolate
tem

eu decidi, eu vou pra fora, ainda mais pra fora
eu vou no ano que começa, eu vou agora
eu vou pra longe de você, eu vou embora
e assim não é seu medo que me impede de você
não o seu pequeno medo que me impede de você
lá fora quem me impede é o mar inteiro
ele é gigante
conforta impedimentos
alivia os meus intentos.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

o que eu espero de você

no plano real
- que você me escreva de novo
- que você me ligue de novo
- que você me veja de novo

no plano sexual
(este plano está entre o real e o ideal porque ele se dá entre a vida e a morte)
- que você veja o meu novo estilo de depilação na virilha e as posições sexuais que eu treinei com outros homens
- que você chupe meus peitos e minha boceta com mais vontade do que todas as vezes que você já me chupou
- que você me aperte me bata me morda e enfie o seu pau em mim com mais força do que todas as vezes que você já enfiou

no plano ideal
- que você fique absolutamente transtornado de amor com o meu retorno
- que você perceba que, apesar do fim, a nossa história está só começando, e que ela vai durar no mínimo uma vida inteira
- que você largue tudo e se case comigo 

sábado, 21 de setembro de 2013

5.24 vigilante

eu te vejo na rua.
você fuma.
eu paraliso.
eu espero você sumir.
você some.
eu sento.
eu respiro.
eu entro.
você está deitado.
eu sento atrás de você.
eu assisto.
você olha para trás rapidamente.
você se assusta.
você torna a assistir por meio segundo.
você olha para trás longamente.
você pensa.
você olha para trás de novo.
você se levanta.
seus papéis caem.
você recolhe.
você vem até mim.
você beija meu rosto.
eu contraio todos os músculos.
você sério.
eu séria.
eu digo oi.
você diz oi.
você sorri.
você some.
eu engulo o choro.
eu controlo a respiração.
eu engulo o choro.
eu controlo a respiração.
eu engulo o choro eu controlo a respiração eu engulo o choro eu controlo a respiração eu engulo o choro eu controlo a respiração eu sempre me perguntei se o que eu sentia por você era real ou era um sentimento da lembrança do que eu imaginei ser você e então eu descobri que é real eu engulo o choro eu controlo a respiração eu engulo o choro eu controlo a respiração eu choro e engulo novamente.
eu assisto.
ela surge.
eu não ligo.
eu assisto.
você está lá.
ela está lá.
eu me sinto à vontade.
eu me sinto no sofá da sua casa.
eu mudo os sofás em que me deito mas ainda é a sua casa.
eu assisto.
você se agacha diante de mim.
você me oferece vinho.
eu aceito.
eu estou no sofá da sua casa.
você me traz vinho.
eu estou no sofá da sua casa.
eu vou ao banheiro muitas vezes.
eu estou no sofá da sua casa.
eu saio.
eu fumo.
eu estou há mais de 9 meses de distância do sofá da sua casa.
eu converso com o vigia.
eu retorno.
eu assisto.
eu assisto.
eu assisto.
você some.
eu não quero ir embora.
eu vou embora.
eu te vejo.
você sorri para mim.
você diz tchau.
eu não sei sorrir para você.
eu não sei sorrir para você você não sabe sorrir para mim eu prefiro você derrubando os papéis eu prefiro você sério comigo você tem que falar sério comigo você sorrindo assim não combina com a gente não é leve por favor não banaliza esse sorriso.
eu chego em casa.
a minha mãe diz que eu estou bonita.
eu me pergunto se.
eu me pergunto se.
eu como.
eu durmo.
eu sonho com o que vi.
eu acordo. 
vigilante.
eu não durmo.
você está acordado lá.
eu estou acordada aqui.
eu te.
eu.
você?
eu engulo o choro.
da minha janela eu já não te vejo na rua.
eu acabei de acordar mas faz meses.
que eu não durmo.

domingo, 8 de setembro de 2013

aquela cidade nos meus restos, ou o que restou daquela cidade

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a adolescência, as cachaças, as rimas da minha língua, as pequenas casas noturnas tão quentes, a falta de rigidez das madrugadas, os meus homens daqui, os meus homens daqui, os meus homens daqui, o colo da minha mãe. se é disso que eu sinto falta, porque eu não retornei pra isso?
porque eu nem sei se isso existiu, eu pensei.
porque isso está falido.

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“não é sonho”, eu pensei, ao reconhecer as casinhas de pedra através das janelas. “é aconchego”.
aqui é uma casa. uma casa onde eu posso ser sozinha. uma casa onde eu posso ser cigarros. uma casa onde eu posso ser silêncio.
aqui eu sou a minha própria casa.
(e o gosto dele ainda na boca.)

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(a voz dele ainda no meu cérebro)
sinto que aqui, as vozes e os gostos podem, definitivamente, virar passado.
eu quero viver aqui, sem saudade de lá. aqui é o recomeço.
a falta de tratos é passado também.

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eu fiquei sentada ali e simplesmente deixei que meus olhos fluíssem pelas pedras. eu vi casamentos. eu vi milagres. eu vi sangue. eu nunca imaginei que um lugar sacro fosse tão inspirador para a poesia profana. meu sexo se esvaiu. eu estou aqui. eu quero estar ali, nas paredes. nos vitrais. uma pintura. uma pedra. dura. sem calor. a função certeira da existência. sem suor e esses gritos.

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fogo e água corrente, vindos da cabeça. essa é a morte: invasiva. lembro de toda a morte do outro lado do oceano. morte minuto após minuto. minuto após minuto. ele me pediu para que não fôssemos tão distantes. acho que eu nunca vou conseguir fazer nada que ele me pede, eu preciso voar na direção contrária. eu quero expulsá-lo. aquela garota cretina quer me explodir, eu espero que ela exploda. eu quero dissolvê-lo de mim, em mim, o fogo que acende, a água que escorre, eu não quero voltar para a morte.

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eu observava “cupid complaining to venus”, de lucas cranach, e um pai explicava o quadro para o filho. ele dizia que sempre que há prazer, há dor, ele dizia isso com o peso dos adultos, e a criança talvez tenha entendido. o sofrimento e o amor. os amores alegóricos de paolo veronese. eu estou procurando amor em todas as paredes, e posso vê-lo até nos sexos das virgens.
(nos olhares desencontrados de robert campin.
meu e seus.)
rembrandt fez um autorretrato aos 34 anos de idade e outro aos 63. ele está com uma aparência similar, porém usa tintas mais escuras e borradas no quadro mais recente. deve ser terrível.  viver até que os órgãos as peles e os sentidos escureçam e se borrem.

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eu revi minha antiga escola em holborn. eu revi minha antiga casa em woodford. eu chorei sem lágrimas. wild is the wind, mas isso foi antes da ventania. eu tinha medo de voltar para casa no escuro, eu tinha medo dos homens de bicicleta, eu sorria, eu não via os meus ossos, eu sorria muito, wild is the wind, wild is the wind, wild is the wind, por que o meu passado de amor está comendo o meu frio com tantos dentes? dói. eu acabei de ler a peça “the strange undoing of prudencia hart”. é sobre uma menina que luta por sua linguagem. ela encontra um primeiro homem que acredita nela. ela vai até sua casa, e descobre um imenso escritório encantador, com livros. ela descobre que a casa é o inferno e que o homem é o demônio. ela vive uma história de amor com ele. mas ela precisa abandoná-lo, porque ele é o demônio. o processo de abandono é doloroso. ela precisa de ajuda. ela vai embora, após dois milênios de amor. ela se transforma em um demônio também. essa é a minha história. essa história é minha.

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eu sou feliz sozinha. os jogos, os testes, eles não me fazem sentir, nada que não seja verdade me faz sentir de verdade. eu procurei maneiras de substituir o amor, eu achei que o consumo seria um bom escape. eu não aguento mais. eu odeio a picadilly circus. eu consumi até um homem hoje. depois descartei, como se faz com as coisas. ele me chamou de mermaid. ele falou dos meus eyes, lips. ele ficou derretido, ele tremia, eu nunca vi um homem assim. o meu amor, ele costumava falar dos meus olhos também. eu acho que ele também tremia por dentro, eu acho que ele também explodia. os cigarros hoje me deixaram com uma calma cruel. eu te amo, eu quero ser tão cruel quanto você, eu sou um pequeno demônio deprimido agora. todos no hyde park me olham. tudo o que eu quero é ser sozinha, como você. eles me querem. eu quero a mim mesma. eu amo você. eu amo vocês, meus homens lá de trás. e agora eu sou só eu. eu sou feliz com meu livro e eu. meus cigarros e eu. eu e meu silêncio. “just leave.” eu. eu. eu. meu leão.

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aqui eu sou até bonita. aqui eu sinto até conforto. eu não quero voltar. a nossa casa é onde a gente tem sensação de pertencimento. eu encontrei o meu lugar.

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ao entrar em um aeroporto, você já não está mais em um país, você está em um limbo. não há nacionalidade, não há linguagem, não há amor. eu quero dar meia volta e voltar para casa. eu já urinei quatro vezes hoje.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

a little something for an old friend

yesterday i saw “the strange undoing of prudencia hart”, a theatre play about a girl who falls in love with the devil. they love each other, but viver no inferno é terrível. so, she leaves him. and leaving him is terrible as well. but she must do it. she doesn’t wanna be dead anymore. now she can discover a new language, she can forget the ballads and sing a new song, out of her celas tão eternas. but it’s still old. because it’s still about him. i'm free now. hell is inside me. when she left him, she said: “eu amo você, but even love’s made hell by immortality. i’ll miss you, devil, i wonder if you’ll miss me.” can you feel it? today i bought lots of gifts for everybody. i bought nothing for you. but i wanted to. this kylie’s song is from the soundtrack of the play, and this is my present for you, do outro lado do oceano. this is just a party song, but in prudencia’s voice, this is our hell song. feliz aniversário.

“i just can't get you out of my head
boy it's more than i dare to think about
every night
every day
just to be there in your arms
won't you stay?
won't you lay?
stay forever and ever and ever and ever
(...)
set me free.”

(o meu coração voa. de novo. e de novo. e de novo.
mas ele ainda está aí.)


quinta-feira, 25 de julho de 2013

eu-breton, para as minhas uniões

meus homens com os cabelos de antracite
com os cabelos de cinzas de cigarro
e com os pelos de cerrado
e com as peles de pães crus pães fermentados pães embolorados
meus homens com pensamentos de crisálidas
com pensamentos de tempestade
com pensamentos de flor de lótus
meus homens com as bocas de júpiter em combustão
com os dentes de lobisomens em lua cheia
com as línguas de carros de corrida
de febres dominicais
meus homens com as sobrancelhas de neblinas
com as sobrancelhas de irídios
de esfregões de limpeza
meus homens com os narizes de monarquias absolutas
meus homens com as barbas de urtigas
com as barbas de lixo europeu
meus homens com os ombros de dinossauros fossilizados
meus homens com os peitos de tábuas tortas
com os peitos de f(r)icções infantis
meus homens com as costas de lixas de unha
com as costas de calor
e com os pescoços de carne mal passada
meus homens com os braços de jararacas
e com os pulsos de ponteiros de relógios desordenados
e com os dedos de farpas
de agulhas de vacina
de bordas de papel sulfite correndo na pele
de sobremesas açucaradas
meus homens com os pés de atobás
com os pés de máquinas para pegar ursos de pelúcia
meus homens com as pernas de relíquias arqueológicas
e com as nádegas de pontos turísticos
meus homens com as barrigas de todos os reflexos de todos os gritos surdos
com as barrigas de verões
de compostos de etanol de pele de etanol de pele
meus homens com as ancas de britadeiras
e com os movimentos que acompanham o meu ventre
e com os sexos de espumas quentes de mares quentes
meus homens com os sexos de chaves maiores que as fechaduras
de chaves que arrombam as fechaduras
meus homens com os sexos de banquetes agridoces
meus homens com os sexos de monóxido de carbono
com os sexos de surra
e com os olhos de fúria
meus homens com os olhos de patas de insetos
com os olhos de equipamentos portáteis de visão noturna
meus homens com os olhos de grutas ocas
de noites nos desertos
com os olhos de noites e de noites e noites e de noites e noites e de noites.

sábado, 13 de julho de 2013

2.

no ano passado eu tentei comemorar essa mesma madrugada com você. não deu certo, nossas agendas se desencontraram, como sempre. mas eu te mandei um recadinho e você me respondeu. você sabia que a data era importante para mim. fazia um ano desde que aquilo tinha acontecido conosco. comigo. e agora faz dois anos.

como você está?

eu tenho vivido tempestades. eu sabia que isso aconteceria depois que cada um seguisse o seu caminho. porque eu não teria mais você para cuidar de mim. e então eu não teria mais ninguém para cuidar de mim. e então eu ficaria maluca de vez. e então tudo seria uma tentativa devastadora de ter todo o controle que eu não tive com você. eu sinto sua falta. eu sabia que seria mais difícil do que parece. é mais difícil do que parece.

se você ainda estivesse aqui, será que nós comemoraríamos essa madrugada? os dois anos da minha liberdade, e nós éramos tão presos. talvez nós não conseguíssemos. a madrugada de sexta para sábado quase nunca era boa para nós. os finais de semana quase nunca são bons para quem se esconde.

se você ainda estivesse aqui, eu ainda estaria girando em torno de você e você ainda seria o meu equilíbrio e o meu desequilíbrio. o meu equilíbrio e o meu desequilíbrio em dois anos e meio de relação. o meu equilíbrio e o meu desequilíbrio na constância. agora eu diluí os meus eixos e os desequilíbrios têm sido cada vez mais frequentes, por mais que o esforço tenha sido na direção contrária. eu não tenho você para me aconselhar, eu estou solta com a minha loucura. essa madrugada é minha e a celebração é solitária. você jamais guardaria a data. porque nada mudou para você há dois anos atrás. quem se transformou fui eu. com você. se você ainda estivesse aqui, será que nós comemoraríamos essa madrugada?

eu abri o meu diário e havia muitas coisas escritas sobre aquela madrugada.
eu dizia
agora é uma sala aberta.

talvez eu apenas precise fechar novamente. o diário. a sala. eu.
e parar de sentir. e parar de ser. e parar de querer.
e parar e parar e parar e parar e parar e parar e parar.

eu tenho tantas coisas para dizer, mas acho que não consigo dizer quase nada, eu choro muito.

como está N., que sempre me recebia com tanto carinho? eu sinto falta dela também.
será que nós estaríamos na sua casa? será que ela comemoraria com a gente?

eu acho que você celebrou a nossa data e datas e amor no ano passado, da sua maneira alternativa. você me amou em pequenas doses, e eu quase não vi. você me amava quando você me buscava ou me deixava na porta de casa, é delicado. você me amava quando você ficava feliz pelas minhas pequenas conquistas. você me amava quando você não tinha pudores em me falar sobre alguns dos seus problemas. você me amava quando ouvia todos os meus problemas com um carinho protetor. você me protegia tanto que me mimava, você me dava docinhos, você me queria feliz. isso é mais importante que o calendário. me desculpa, eu quase não vi.

você me viu?
se você ainda estivesse aqui, será que nós comemoraríamos essa madrugada?

há dois anos atrás era você ao meu lado, o cigarro queimando rápido daquele jeito, eu e a dor, eu e o silêncio, você achando os meus olhos gigantes na escuridão do princípio.

eu amo
enfim.

feliz dois anos do meu corpo.
para o meu próprio corpo.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

eu sou jocasta, eu sou anaïs nin, eu sou louise bourgeois


(eu tenho o corpo nu e deformado pelo sangue.)

eu gostava mais dele quando ele era um bebezinho e não falava nada.

eu gosto mais dele quando ele está dentro de mim e não pensa em nada.

eu quero fazer você voltar para o útero, eu amo você.

eu penso nas coisas que ele faz comigo e ouço a respiração do meu bebezinho

na 

cama.

ele respira alto como se ainda fosse um filhote, ele ronca.

eu durmo e acordo durmo e acordo num movimento contínuo de ansiedade por nós, 

por ele.

eu quero fazer você voltar para o útero, eu amo você.

eu revestida por pele.

eu exposta.

eu esperando palavras que são atravessadas pela invasão antes de nascerem.

a cabeça e o coração ainda doloridos pela madrugada, recebendo aquilo,

recebendo

aquilo.

eu quero fazer você voltar para o útero, eu amo você.

eu acordada vejo que ele acorda, ele deita com o corpo perpendicular ao meu corpo, a cabeça dele repousa em meu ventre, eu faço carinho nos cabelos nas barbas e nos pelos todos, é o meu bebezinho, lobinho, homenzinho, ele beija a minha perna, ele pula faminto e vai para a rua, eu tomo um banho sem estar suja, com ele eu nunca fico suja, porque é ele, meu homem, eu amo você. eu tomo um banho com os produtos dele para que os cheiros daqueles pelos sejam também os cheiros meus, eu seco os pelos próprios com a toalha dele, eu acordo e acordo acordo e acordo num movimento contínuo de ansiedade por nós, por ele, eu amo o meu filho e eu amo o pai do meu filho e eu amo o cadáver do pai do meu filho.

marido morto.

eu quero fazer você voltar para o útero, eu amo você.

engulo você.

como você.

como você me come.

você. 

(um animal irreconhecível chora gritando dentro do meu útero. ele quer sair.)
 
o meu amor é livre porque você saiu de mim, eu amo você, eu gerei você dentro de mim, eu amo você, o meu amor é livre porque eu amo só você só, então o meu amor voa, porque ele tem o direito de crescer para todas as direções sem nunca explodir, eu amo você, o meu amor é livre porque eu não amo um pouco um monte de gente, eu amo só você um monte de monte, o meu amor é livre porque ele é ilimitado, eu amo você, o meu amor é livre porque você é meu bebezinho, meu homenzinho, eu criei você , eu gosto de você dentro de mim, o meu amor é imenso e pode ser imenso porque eu tenho esse direito, eu cuido de você e eu posso amar você até onde eu quiser, porque só você está dentro da minha barriga porque só você está dentro da minha cabeça porque só você está dentro da minha boceta, eu forço você para o útero, eu como você, vem aqui, a entrada é aqui, ENTRA, vem, 

eu amo você. 

você. 
 
(o meu coração voa.)

terça-feira, 16 de abril de 2013

homens politizados

um homem que se diz de esquerda, mas que enxerga outra pessoa não como uma pessoa e sim como um problema a ser eliminado,
não entende nada sobre política.

um homem que discute os males do mundo capitalista, mas acha que a melhor maneira de lidar com um problema (pessoa), é ignorando-o, ou seja, seguindo a lógica do abafamento, da opressão e da alienação aplicada a seres humanos,
não entende nada sobre política.

um homem que estuda, questiona, exige posicionamento alheio, mas opta por posicionar-se ignorando um problema (pessoa) que está à sua frente, utilizando desde palavras não ditas até jantares amistosos regados a cerveja e maconha enquanto o problema (pessoa) espera uma resposta para um conflito que ainda é latente,
não entende nada sobre política.

um homem que participa de manifestações e entende sobre partidos, mas tangencia conflitos para preservar a própria paz, ignorando o inferno do outro, inferno este que ele próprio ajudou a criar,
não entende nada sobre política.

um homem que cria mundos utópicos, mas que cria infernos nos mundos reais por falta de capacidade (vontade) de compreender, respeitar e preencher as delicadezas dos tempos (momentos) e de encarar em conjunto as problemáticas que foram criadas em conjunto,
não entende nada sobre política.

que homem ingênuo o que pensa que a política está completamente distante! apenas no governo. nos órgãos institucionais. nas discussões filosóficas dos universitários idealistas. alguma instância da política está, de fato, longe, e deve sim ser discutida. mas a relação primeira está aqui. o ato político primário se dá na relação com o outro. na capacidade de transformação minha e do outro e na abertura para lidar verdadeiramente com os afetos e afetações que isso envolve. é necessário tentar verticalizar a experiência no campo do sensível. tentar olhar o outro nas pequenas relações. tentar olhar o outro. se esse passo básico, quase infantil, não é dado, é impossível dar os passos gigantescos para mudar coisas maiores (o mundo, como querem os homens ditos politizados). 

encarar o problema de frente, chafurdar nele, bater na mesma tecla até que vire pó. agora exposta. sem covardia. esse é meu ato político e talvez performativo. dói, mas eu não fujo.



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

o lobisomem

1. O RASGO
é cinza como a tarde no começo e azul como a neblina no depois. vem cá, lobinho, é frio, eu vi você rasgado, não veste, eu aranquei a sua roupa com amor, não cria pelo pelo pelo pelo pelo pelo pelo que era meu repete não assim se você me deixar em carne viva eu vou vomitar imitar você para você PARA - de repente é ele rasgando e eu vermelha como a morte, ele deixa pra morte, esse bicho, eu fiquei vomitando os restos daquilo que eu nunca deveria ter engolido.


2. A METAMORFOSE
eu sonhei que eu era um lobo eu acordei eu era um lobo eu acordei e era eu sonhei que era órfã de sol eu sonhei que eu era um princesa eu acordei eu era um lobo eu acordei e era eu sonhei que rasgava eu vou vomitar imitar você para você PARA não veste eu rasguei a sua roupa com VOCÊ me deixar em carne viva! VIVA! eu prometo rasgar você, eu prometo.

3. A LUA
segurar os pêlos pelas unhas e ver a luz branca subindo, é assim, você segura os pêlos pelas unhas e vê a luz branca subindo, é uivante, segura os pêlos pelas unhas e vê a luz branca subindo, a pele do monstro tem gosto de açúcar e ele é mais forte que você, mais forte pelas unhas e vê a luz branca subindo, é assim, as unhas e ver a luz, as unhas e verá luz, não corre - não corre, as unhas sem vomitar (agora já é depois).

sábado, 19 de janeiro de 2013

solvente intrín(seco)

(uma sala ou um oceano)

Uma dor de cabeça crônica que começa nos lobos parietais do meu cérebro e se estende até o lobo frontal do meu cérebro desde que aconteceu aquilo. Eu tenho pensado naquilo tanto, tudo aqui dentro. Eu tenho me descolado do meu cérebro, eu tenho falado pelo centro do meu corpo.
Uma dor típica dos problemas de visão e então eu tive que ter certeza, eu tive que me assegurar de que estava enxergando tudo direitinho. Eu estava.
Os olhos fechados e de repente aquela noite em que eu resolvi esmagar vaga-lumes com as mãos para comer as luzes, eu fiquei me perguntando se não era esse tipo de lembrança que estava comprimindo o meu cérebro até que ele sangrasse.
Os dedos dos meus pés amortecidos como o amor que eu teci. Eu abro os olhos e percebo que os dedos dos meus pés desapareceram, eles tornaram-se líquido azul, e então o corpo inteiro se degenerando e virando essa coisa. Azul. De baixo para cima. Não morrer, com toda a tragicidade da morte, mas sumir, com todo o mistério do desaparecimento. É assim. Quando você comete algum tipo de assassinato para obter algum tipo de iluminação. Você some.
Quando o cérebro começa a ser destruído, ele dói.
A minha poltrona encharcada. A minha cadela não tem para onde nadar.
A sala já é um oceano sem água
Para que seja eu
Para que seja
os meus lobos parietais localizados no centro da minha existência - o tato - a dor - a temperatura corporal - os estímulos dos lábios - língua - garganta - estava tudo organizado e de repente está tudo comprimido - o meu lobo frontal localizado na frontalidade da minha existência - os movimentos - as abstrações - estava tudo concreto e de repente está tudo derretendo - envio comandos para os dedos dos pés e eles não me obedecem mais - EU AINDA SOU VOCÊ - NÃO SE DESCOLE DE MIM - eu ainda não quero perder os comandos - eu ainda não quero perder o controle - eu ainda não quero sumir - eu ainda
Eu tenho pensado naquilo tanto, tudo aqui dentro.
Eu fiquei me perguntando se não era esse tipo de lembrança que estava comprimindo o meu cérebro até que ele sangrasse.
Morrer. Sumir. É assim. Quando você comete algum tipo de assassinato para obter algum tipo de iluminação. Você some.
A minha poltrona encharcada. A minha cadela não tem para onde nadar.
A sala já é um oceano sem água
Para que seja eu
Para que seja
eu poderia ser de couro mas o meu tecido é fino: encharcado: eu poderia ter dois lugares mas eu estou aqui comportando um único ser humano : daqueles que não são inteiros: daqueles pela metade: este ser sobre mim era um peso e agora é um peso menor: o peso de tudo aquilo que não é sólido: água em mim: eu tenho espaço para uma pessoa só: água em mim: eu vou começar a boiar daqui a pouco: água em mim: quando o líquido azul chegar ao teto eu terei espaço suficiente para duas pessoas: eu vou virar uma baleia...
Comprimindo o meu cérebro.
A minha poltrona encharcada. A minha cadela não tem para onde nadar.
Oceano sem água
Para que seja eu
Para que seja

fala comigo olha pra mim não some eu não posso beber essa água que você virou me dá água de verdade tem gosma cinzenta nessa sua água você está ficando azul demais socorro eu não tenho para onde nadar volta pra forma de antes volta eu vou morrer eu vou sumir junto com você está entrando nos meus buracos você está entrando no meu focinho eu vou nadar até o teto e depois
Que seja.

(inundação de ondas ou móveis)