terça-feira, 31 de dezembro de 2013

mar afora

todos os corpos têm seus risos, alguns adormecem na sede do abraço, outros têm tremores oníricos-noturnos, e há aqueles que desajeitadamente desenham um quatro com as pernas e respiram ofegantes para cima

mas o seu

o seu tinha braços de tragédia

todas as noites antes de dormir você repousava a mão sobre a testa como um Édipo sofredor, os seus braços desenhavam todas as tragicidades das fábulas, e então você apagava tragicamente

tragicamente
você apaga

o nosso problema
é que você fala de Aristóteles
e eu falo de Magritte
o nosso problema
é que você é discado
e eu sou banda larga
eu tô abrindo várias abas e você tá dando lag
você tá dando lag
o nosso problema é que você é pra dentro e eu sou pra fora
fora da gaiola

vem cá pra fora
tem noites de amor
tem choro de despedida
tem chocolate
tem

eu decidi, eu vou pra fora, ainda mais pra fora
eu vou no ano que começa, eu vou agora
eu vou pra longe de você, eu vou embora
e assim não é seu medo que me impede de você
não o seu pequeno medo que me impede de você
lá fora quem me impede é o mar inteiro
ele é gigante
conforta impedimentos
alivia os meus intentos.