segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

sobre meninas adolescentes com homens mais velhos

aos 17 eu me interessei por um cara 15 anos mais velho que eu, era meu professor. ele dava em cima de mim e eu achava legal.

aos 18 saímos pela primeira vez.

aos 19 eu já estava totalmente envolvida. ele me levava pra tomar vinho na casa dele e foi lá que perdi minha virgindade e senti amor real pela primeira vez. ele era todo "feministão" e inclusive tinha um quadro do "we can do it" na parede da sala.

a minha entrada na vida sexual foi bastante conturbada e eu precisei conversar muito sobre isso com um psicólogo na época. um psicólogo de 60 anos que ficou excitado com os relatos e resolveu dar em cima de mim. precisei interromper o tratamento.

mas tudo bem. eu tava me sentindo feliz com essa nova relação com o tal homem mais velho. depois de vários meses juntos (quase um ano), muito tempo depois que minha virgindade já tinha ido pro espaço, eu descobri que ele era comprometido. mas ele me disse que era uma relação super aberta, que tava tudo bem em relação a gente, e inclusive me fez duvidar de que essa relação com a outra mulher fosse de fato importante pra ele, pra mim sempre pareceu mais uma parceria de trabalho do que qualquer outra coisa. aí quis continuar. continuei. eu continuei mantendo um relacionamento escondido sem querer ser escondida, sem nunca ter de fato concordado com isso, mas aceitei em nome do "amor". eu não tinha relações sexuais com nenhum outro cara, por amor também. ele tinha, com a namorada  dele e com uma caralhada de outras minas que ele comia. mas eu não queria mais ninguém, só me sentia confortável com ele. e ele sabia disso. e ele começou a ser negligente, a me deixar de lado, a me envolver nas confusões dele e me deixar esperando os tempos que ele precisava pra "pensar" ou fazer qualquer coisa que fosse mais urgente. ele começou a me tratar como se eu fosse o ser menos importante do mundo, mas me dava todo o amor quando nos encontrávamos, dizia que o outro relacionamento dele estava afundando, e isso me enchia de esperanças. o sexo sempre girou em torno dele, eu nunca gozei, mas como eu nunca tinha transado com outros caras, não tinha parâmetros. o comportamento dele e a situação toda me deixaram mais ansiosa que o normal, comecei a desenvolver crises de pânico e crises suicidas durante a relação, precisei começar a me medicar. certo dia, a negligência dele começou a pesar muito, chegava no auge da gente transar, se despedir com ele dizendo que ia me ligar loguinho, e em seguida passar a semana inteira (ou mais) sem me contatar. foram uns 2 anos desse inferno. aos 21 eu decidi falar tudo o que me afligia e terminar, fui chorando me encontrar com ele pra explicar como eu estava me sentindo, devolvi os presentes que ele me deu e ele me mandou calar a boca antes mesmo que eu começasse. ele disse que não ia me aturar falando merda sobre ele, saiu andando e me deixou lá. passei uma hora chorando sozinha, voltei pra casa, peguei meu vidro de remédios controlados e tomei uma overdose. se minha mãe não tivesse chegado em casa a tempo, eu teria morrido. em seguida escrevi pra ele tudo o que não consegui falar. ele ficou ofendidíssimo por eu sugerir que ele era um "deflorador de virgens inocentes" (nunca falei isso), me chamou de mimada, de filhotinha do amor romântico, disse que não me respeitaria nunca mais e que não ia mais me responder.

a gente parou de se falar, todos os meus relacionamentos posteriores foram um fracasso, me apaixonei umas duas vezes sem muito controle e surtei sem grandes motivos em diversas ocasiões, enquanto ele se casou com a namorada, no civil. durante a adolescência coloquei na minha cabeça que ele era meu grande amor, que eu precisava dele pra viver, então senti falta dele, claro, e fui procurá-lo depois de uns 9 meses. ele correspondeu prontamente, também me procurou, a gente deu uns beijos e foi isso. isso nunca parou de me destruir. isso começou a me pirar. e eu fiz um plano mirabolante, arrumei um mestrado no exterior pro ano seguinte e decidi largar tudo (início de carreira, família, amigos) pra morar fora do país e ver se pelo menos a distância física fazia com que eu me livrasse dessa história. queria ter me despedido dele antes de partir, ele disse que também queria, mas no final das contas nunca apareceu e a gente não se despediu. fora do país, transei um monte e não me envolvi com ninguém, inclusive passei a criar certo asco depois de transar. vez ou outra a imagem dele voltava pra me assombrar quando eu tava na cama com outro cara, e eu achei até que fosse encosto, amarração, ou qualquer merda dessas. depois de um ano fora, voltei pro Brasil pra passar um mês de férias, mas não sem contatá-lo antes, desejando-lhe um feliz aniversário (as datas bateram), dizendo que estava com saudades, que queria vê-lo. ele, de novo, correspondeu prontamente, disse que também queria me ver, e foi assim que a gente se reencontrou. já com 24 anos, eu achei que estava preparada pra bancar um momento desses, mas precisei passar a tarde bebendo e acendendo velas pra evitar um ataque cardíaco. nosso reencontro foi lindo e intenso, a gente conversou bastante e reatou a relação depois de anos. ele disse que me amava, apesar de estar casado. disse que nunca deixou de pensar em mim. eu fiquei feliz porque o que considerei como um relacionamento abusivo e traumático durante muito tempo, de repente se tornou algo recíproco. eu repeti pra mim mesma que ele não era mau-caráter ou abusivo, que era só um tanto quanto confuso ou um tanto quanto melancólico nesse mar de contradições em que todos estamos. deixei claro que queria que ele se separasse, que eu não queria ser escondida para sempre, que eu não queria compactuar com um homem que engana outra mulher, e essa demanda ficou no ar, mas tudo bem, porque reatar é sempre leve, gostoso e devagar. e ele mudou muito. a partir daquele dia tornou-se presente, afetuoso. ele disse para mim que o que a gente tinha podia não ser perfeito ou ideal, mas que com certeza era muito mais bonito e importante do que as relações de rotina que as pessoas mantêm. tive certeza de estar vivendo a maior história de amor do século. mas eram só férias, e mais 8 meses fora do país me aguardavam, afinal, eu precisava concluir o mestrado. decidimos manter a relação à distância, com skypes e e-mails. nos primeiros 3 meses tudo funcionou muito bem. depois ele se acomodou e passou a reproduzir o mesmo comportamento negligente de antes. na minha primeira cobrança ele já se aborreceu e me mandou um textão falando o quanto ele era um homem especial por me dar liberdade e dar liberdade pras pessoas, por não ficar me cobrando atenção (e que eu não deveria cobrar também), etc. é muito maluco porque ele fala comigo como se estivesse falando com ele mesmo, como se a minha ideia de liberdade fosse a mesma que a dele. eu me dou muito bem com a ideia de rotina e monogamia, isso não me aprisiona não (respeito e compreendo quem se sente aprisionado). quando ele me diz que me deixa livre porque me deixa solta, ele não me diz nada. liberdade pra mim seria andar de mãos dadas na rua com ele, seria parar de me esconder e poder viver um relacionamento de boas ao invés de ficar me enfiando em quartinhos de motéis e ter que aturar uma aliança gigantesca no anelar esquerdo dele enquanto ele diz que me ama. é claro que, tendo consciência disso, eu respondi à altura, com um textão cinco vezes maior que o dele. e aí ele decidiu fazer uma viagem sozinho pra "pensar" (acho maluco o quanto ele pensa muito sem nunca agir) e me deixou sem resposta durante quase um mês. adivinha o que aconteceu nesse mês? depressão, ataques de pânico, pensamentos suicidas, insônia, pesadelos, e toda essa bosta que eu não tinha há ANOS (tinha até parado de me medicar). eu adoeci (fisicamente inclusive, fiquei fraca, parei de assistir aulas, minhas enxaquecas triplicaram, voltei a fazer tratamento, etc) e quando ele me contatou eu tava fraca demais pra voltar pra discussão de antes. eu passei umas 3 horas chorando no skype dizendo que eu só queria me matar, que a minha depressão tinha dado as caras e que eu tava no buraco. aí ele ficou nervosinho (sim!!!) porque os problemas que eu tinha eram os que todo mundo tinha e que eu não era do tipo de pessoa que realmente poderia se matar, e quando eu falei que não entendi a reação brava dele, ele disse que não tava bravo, que tava reagindo assim porque ficou preocupado. preocupado. super preocupado. preocupadíssimo. depois dessa conversa passou uns 10 dias sem me mandar uma mensagem sequer pra saber se eu tava viva. eu que precisei retomar contato e lembrá-lo que a gente ainda tinha uma conversa pendente (conversa da qual ele está nitidamente se esquivando). bom, chegamos ao momento presente, portanto, ao fim dessa história. como vocês podem notar, não é uma história empoderadora de superação e talvez seja um monstro que me persiga pelo resto da vida. to pagando pra ver se é romance ou tragédia. se isso é amor ou é abuso, se vai dar certo ou não, nem eu sei mais. e também não importa.

o que importa é: ta rolando uma polêmica aí de que um cinquentão do BBB disse que curte embebedar e pegar umas minas de 16/17 anos. aí uma mina da casa ficou puta porque acha ele um pedófilo nojento. se esses dois são personagens ou não, se é manipulação da emissora pra conseguir audiência ou não, foda-se. o que me deixa maluca é ver gente dizendo que não tem nada de errado na atitude do cara porque uma mina de 17 anos é madura e sabe muito bem o que faz. ta. vamos recapitular: aos 17 eu conheci um homem mais velho que desde então só tem fodido com o meu emocional através de joguinhos psicológicos e uma grande relação de poder. hoje em dia, mesmo sendo inteligente, independente e politizada o suficiente pra me distanciar dessa relação, a minha estrutura emocional já está tão quebrada que eu não consigo nem pensar em dar um basta nisso. existe um lado meu que acredita piamente na essência bela de tudo isso e um lado que diz: "foge, pelamordedeus, cê vai morrer, mina". se eu sabia o que fazia aos 17, 18, 19 anos? não. não sabia. se eu pudesse me dar um conselho pro meu eu-adolescente? "corre desse cara agora. não vai tomar vinho na casa dele coisa nenhuma. vai se descobrir sexualmente com alguém da sua idade". eu sempre me pergunto qual era o interesse de um cara de cabelos brancos numa menor que ainda frequentava os churras da galera do ensino médio, e as respostas que eu me dou nunca são favoráveis. ele tinha sim aquele papo de que eu era madura e inteligente, de que até achava que eu era mais velha, de que nunca imaginou que eu era a mais nova da turma. adorei ouvir isso na época, mas hoje sei que é mentira. eu olho pro meu eu-adolescente e posso constatar que eu era absurdamente cabaça. eu tive uma criação super privilegiada, demorei muito pra precisar começar a trabalhar, fui criançona até tarde e adolescentona até quase ontem, imatura de tudo, inocente, trouxa mesmo. aí alguém pode virar e me dizer: "mas agora a sra é adulta e sabe muito bem o que faz, se meteu com esse cara de novo por quê? porque quer. porque gosta." e eu respondo: sim, os meus sentimentos por ele são verdadeiros e imensos, mas, para além disso: vocês não têm a menor ideia das consequências futuras em uma adolescente que se envolve com um cara mais velho. vocês não imaginam as sequelas da dependência, as confusões afetivas e a bagunça na auto-estima que esse tipo de relação de poder gera. vocês não sabem o quanto eu gostaria de viver em paz, mas talvez nunca consiga. o quanto eu consigo externar isso racionalmente mas não consigo resolver internamente, nem de longe. o que eu to tentando dizer, gente, é que uma relação dessas pode foder o resto da vida de uma menina. e vocês aí falando que uma mina dessa idade sabe o que faz. sabe porra nenhuma. se soubesse, não fazia. ninguém quer sofrer desse jeito não. mas adivinha quem sabe EXATAMENTE o que faz? o homem mais velho. mas dele ninguém cobra nada, porque aparentemente homem tem liberdade social pra fazer várias merdas sem se responsabilizar, enquanto as minas pagam de loucas. não to dizendo que qualquer relação com essa diferença de idade está fadada ao fracasso, mas a maioria das histórias que a gente ouve por aí são de relações super abusivas, de muitas formas distintas. eu gostaria muito que meu caso fosse exceção, dou chances para que o homem em questão me prove isso, mas cada vez mais duvido que seja. e sou eu quem sabe da dor (e banca ela).  espero um dia poder resolver essa situação. meu projeto prático final de mestrado é sobre a romantização do abuso na arte e estou criando uma adaptação teatral de Lolita, o grande clássico sobre abuso que sempre foi altamente romantizado pela mídia (e que tem a ver com tudo isso que to falando aqui). espero, através da arte, não apenas conseguir transformar a vida de algumas pessoas, mas também me empoderar e conseguir transformar a minha própria vida (o que, ironicamente, parece mais difícil).

enfim. foda-se a minha vida pessoal. foda-se também que sexo consentido com maior de 14 é "legal". não me importa se esse velho do BBB tem uma situação aceitável perante a lei. não me importa a porra do BBB. o que me importa é gente responsabilizando meninas adolescentes por se envolverem com um homem mais velho. o que me importa é esse homem mais velho ASSUMIR que curte embebedar umas novinhas pra transar com elas, e a galera botar panos quentes, aí quando uma mulher dá barraco porque acha isso nojento, é taxada de louca. cara, vocês tão falando merda. vocês não tem nem noção de como a menina mais nova vê um homem mais velho e vice-versa. vocês tão protegendo o cara e responsabilizando as minas. vocês não tão entendendo o pensamento de bosta que ajudam a perpetuar com isso, a pedofilia cultural que vocês sustentam, a adultização de meninas, a infantilização de mulheres, e a naturalização do abuso que vocês geram. isso machuca pra caralho. isso é doente. apenas parem.