domingo, 8 de setembro de 2013

aquela cidade nos meus restos, ou o que restou daquela cidade

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a adolescência, as cachaças, as rimas da minha língua, as pequenas casas noturnas tão quentes, a falta de rigidez das madrugadas, os meus homens daqui, os meus homens daqui, os meus homens daqui, o colo da minha mãe. se é disso que eu sinto falta, porque eu não retornei pra isso?
porque eu nem sei se isso existiu, eu pensei.
porque isso está falido.

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“não é sonho”, eu pensei, ao reconhecer as casinhas de pedra através das janelas. “é aconchego”.
aqui é uma casa. uma casa onde eu posso ser sozinha. uma casa onde eu posso ser cigarros. uma casa onde eu posso ser silêncio.
aqui eu sou a minha própria casa.
(e o gosto dele ainda na boca.)

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(a voz dele ainda no meu cérebro)
sinto que aqui, as vozes e os gostos podem, definitivamente, virar passado.
eu quero viver aqui, sem saudade de lá. aqui é o recomeço.
a falta de tratos é passado também.

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eu fiquei sentada ali e simplesmente deixei que meus olhos fluíssem pelas pedras. eu vi casamentos. eu vi milagres. eu vi sangue. eu nunca imaginei que um lugar sacro fosse tão inspirador para a poesia profana. meu sexo se esvaiu. eu estou aqui. eu quero estar ali, nas paredes. nos vitrais. uma pintura. uma pedra. dura. sem calor. a função certeira da existência. sem suor e esses gritos.

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fogo e água corrente, vindos da cabeça. essa é a morte: invasiva. lembro de toda a morte do outro lado do oceano. morte minuto após minuto. minuto após minuto. ele me pediu para que não fôssemos tão distantes. acho que eu nunca vou conseguir fazer nada que ele me pede, eu preciso voar na direção contrária. eu quero expulsá-lo. aquela garota cretina quer me explodir, eu espero que ela exploda. eu quero dissolvê-lo de mim, em mim, o fogo que acende, a água que escorre, eu não quero voltar para a morte.

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eu observava “cupid complaining to venus”, de lucas cranach, e um pai explicava o quadro para o filho. ele dizia que sempre que há prazer, há dor, ele dizia isso com o peso dos adultos, e a criança talvez tenha entendido. o sofrimento e o amor. os amores alegóricos de paolo veronese. eu estou procurando amor em todas as paredes, e posso vê-lo até nos sexos das virgens.
(nos olhares desencontrados de robert campin.
meu e seus.)
rembrandt fez um autorretrato aos 34 anos de idade e outro aos 63. ele está com uma aparência similar, porém usa tintas mais escuras e borradas no quadro mais recente. deve ser terrível.  viver até que os órgãos as peles e os sentidos escureçam e se borrem.

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eu revi minha antiga escola em holborn. eu revi minha antiga casa em woodford. eu chorei sem lágrimas. wild is the wind, mas isso foi antes da ventania. eu tinha medo de voltar para casa no escuro, eu tinha medo dos homens de bicicleta, eu sorria, eu não via os meus ossos, eu sorria muito, wild is the wind, wild is the wind, wild is the wind, por que o meu passado de amor está comendo o meu frio com tantos dentes? dói. eu acabei de ler a peça “the strange undoing of prudencia hart”. é sobre uma menina que luta por sua linguagem. ela encontra um primeiro homem que acredita nela. ela vai até sua casa, e descobre um imenso escritório encantador, com livros. ela descobre que a casa é o inferno e que o homem é o demônio. ela vive uma história de amor com ele. mas ela precisa abandoná-lo, porque ele é o demônio. o processo de abandono é doloroso. ela precisa de ajuda. ela vai embora, após dois milênios de amor. ela se transforma em um demônio também. essa é a minha história. essa história é minha.

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eu sou feliz sozinha. os jogos, os testes, eles não me fazem sentir, nada que não seja verdade me faz sentir de verdade. eu procurei maneiras de substituir o amor, eu achei que o consumo seria um bom escape. eu não aguento mais. eu odeio a picadilly circus. eu consumi até um homem hoje. depois descartei, como se faz com as coisas. ele me chamou de mermaid. ele falou dos meus eyes, lips. ele ficou derretido, ele tremia, eu nunca vi um homem assim. o meu amor, ele costumava falar dos meus olhos também. eu acho que ele também tremia por dentro, eu acho que ele também explodia. os cigarros hoje me deixaram com uma calma cruel. eu te amo, eu quero ser tão cruel quanto você, eu sou um pequeno demônio deprimido agora. todos no hyde park me olham. tudo o que eu quero é ser sozinha, como você. eles me querem. eu quero a mim mesma. eu amo você. eu amo vocês, meus homens lá de trás. e agora eu sou só eu. eu sou feliz com meu livro e eu. meus cigarros e eu. eu e meu silêncio. “just leave.” eu. eu. eu. meu leão.

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aqui eu sou até bonita. aqui eu sinto até conforto. eu não quero voltar. a nossa casa é onde a gente tem sensação de pertencimento. eu encontrei o meu lugar.

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ao entrar em um aeroporto, você já não está mais em um país, você está em um limbo. não há nacionalidade, não há linguagem, não há amor. eu quero dar meia volta e voltar para casa. eu já urinei quatro vezes hoje.

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