sábado, 19 de janeiro de 2013

solvente intrín(seco)

(uma sala ou um oceano)

Uma dor de cabeça crônica que começa nos lobos parietais do meu cérebro e se estende até o lobo frontal do meu cérebro desde que aconteceu aquilo. Eu tenho pensado naquilo tanto, tudo aqui dentro. Eu tenho me descolado do meu cérebro, eu tenho falado pelo centro do meu corpo.
Uma dor típica dos problemas de visão e então eu tive que ter certeza, eu tive que me assegurar de que estava enxergando tudo direitinho. Eu estava.
Os olhos fechados e de repente aquela noite em que eu resolvi esmagar vaga-lumes com as mãos para comer as luzes, eu fiquei me perguntando se não era esse tipo de lembrança que estava comprimindo o meu cérebro até que ele sangrasse.
Os dedos dos meus pés amortecidos como o amor que eu teci. Eu abro os olhos e percebo que os dedos dos meus pés desapareceram, eles tornaram-se líquido azul, e então o corpo inteiro se degenerando e virando essa coisa. Azul. De baixo para cima. Não morrer, com toda a tragicidade da morte, mas sumir, com todo o mistério do desaparecimento. É assim. Quando você comete algum tipo de assassinato para obter algum tipo de iluminação. Você some.
Quando o cérebro começa a ser destruído, ele dói.
A minha poltrona encharcada. A minha cadela não tem para onde nadar.
A sala já é um oceano sem água
Para que seja eu
Para que seja
os meus lobos parietais localizados no centro da minha existência - o tato - a dor - a temperatura corporal - os estímulos dos lábios - língua - garganta - estava tudo organizado e de repente está tudo comprimido - o meu lobo frontal localizado na frontalidade da minha existência - os movimentos - as abstrações - estava tudo concreto e de repente está tudo derretendo - envio comandos para os dedos dos pés e eles não me obedecem mais - EU AINDA SOU VOCÊ - NÃO SE DESCOLE DE MIM - eu ainda não quero perder os comandos - eu ainda não quero perder o controle - eu ainda não quero sumir - eu ainda
Eu tenho pensado naquilo tanto, tudo aqui dentro.
Eu fiquei me perguntando se não era esse tipo de lembrança que estava comprimindo o meu cérebro até que ele sangrasse.
Morrer. Sumir. É assim. Quando você comete algum tipo de assassinato para obter algum tipo de iluminação. Você some.
A minha poltrona encharcada. A minha cadela não tem para onde nadar.
A sala já é um oceano sem água
Para que seja eu
Para que seja
eu poderia ser de couro mas o meu tecido é fino: encharcado: eu poderia ter dois lugares mas eu estou aqui comportando um único ser humano : daqueles que não são inteiros: daqueles pela metade: este ser sobre mim era um peso e agora é um peso menor: o peso de tudo aquilo que não é sólido: água em mim: eu tenho espaço para uma pessoa só: água em mim: eu vou começar a boiar daqui a pouco: água em mim: quando o líquido azul chegar ao teto eu terei espaço suficiente para duas pessoas: eu vou virar uma baleia...
Comprimindo o meu cérebro.
A minha poltrona encharcada. A minha cadela não tem para onde nadar.
Oceano sem água
Para que seja eu
Para que seja

fala comigo olha pra mim não some eu não posso beber essa água que você virou me dá água de verdade tem gosma cinzenta nessa sua água você está ficando azul demais socorro eu não tenho para onde nadar volta pra forma de antes volta eu vou morrer eu vou sumir junto com você está entrando nos meus buracos você está entrando no meu focinho eu vou nadar até o teto e depois
Que seja.

(inundação de ondas ou móveis)