domingo, 18 de novembro de 2012

sobre estar cega

eu fico esperando, eu
você me viu murchar e perder as carnes e as peles, você
elas sabem que eu passei meses sem comer, eu passei meses sem comer um grão, as pessoas, elas
eu fico tentando entender, eu não sou nada disso, você sabe, mesmo sem carnes e peles, você
eu estou comendo há meses, eu como tudo aquilo que eu não deveria, eu não sou, você sabe, eu
você deveria me abandonar em breve, eu estou esperando, você
eu ainda não entendo o que é que você está fazendo aqui
elas, as pessoas, elas ainda não entendem o que é que você está fazendo aqui
carnes e peles e comidas a mais, metros a menos, anos a menos, eu tentei, sentimentos nojentos, posse excessiva, tudo de ruim está aqui, tudo de ruim está em mim, eu tentei enxergar o que é que você vê para não sair daqui, para não sair de mim, eu quero ver o que você vê, você não me diz, ou diz e eu não escuto você, eu quero entender o motivo, isso não é normal, você aqui há tanto tempo não é normal, eu queria que você largasse tudo por isso, você largaria por outras, é claro, isso eu já consigo entender, mas a permanência por mim, a permanência em mim,  isso eu já não entendo, eu odeio sentir assim, eu penso em te abandonar todos os dias, VOCÊ OLHANDO PARA MIM, EU NÃO ENTENDO, eu não creio que exista amor fora de mim, que é possível existir, que é possível que você sinta, você sabe que eu sou só isso assim, isso pequeno assim,  eu não enxergo, você sabe, você

você

você sabe que o discurso sobre liberdade é mais fácil quando se tem toda essa segurança, já eu

eu

eu sou invisível para mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário