domingo, 19 de janeiro de 2014

perene

1.
ele tenta dar um beijo ela vira a cara
ele pergunta se ela não gosta de beijo
ela responde
gosto
ele tenta dar um beijo ela vira a cara
ele coloca as mãos dela sobre ele e dorme
ela solta as mãos e suga todo o ar do quarto
com a boca ela suga todo o ar
repõe o pulmão que esvaziou-se com a boca dele
se houvesse mais beijo a boca dele
sugaria não só o ar mas os pulmões
o cérebro
o coração
boca barulhenta sugadora de ares
de peles
de órgãos
de sentidos
ela repõe o ar e sente
que vive uma história de amor
ela sente
que pode morrer
e não dorme.

2.
quando ele a conheceu ela era
pequenininha
anã assim
dezessete aninhos
e cabelos negros que chegavam aos pés
gigantes
como os olhos
famintos
como os sexos
inchados
como os corações
gritantes
como os gritos de gozo
ela chora
no gozo e na despedida ela chora
com e sem ele
ela chora
come sem ele
ela incha
incha das fomes
incha das águas
gigante e careca ela é toda um sexo.

3.
ela suga o cigarro
chupa o cigarro
como antes chupava todo ele
respira a fumaça
engole a fumaça
como antes engolia todo ele
ela mata o cigarro
e pare o sol
grávida do sol ela escoa
a luz
tímida luz
luz assassina
é triste o amanhecer
o azul quase azul
o dia quase dia
os quases são tristes
eles quase correram um para o outro
depois de desligarem o telefone
após horas falando sobre o nada
tímidos assassinos
naquela noite eles quase correram
e agora é nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário